avenida q: eu estive lá

quando digo que estive na avenida q, não me refiro ao novo sucesso que a dupla charles möeller e claudio botelho trouxe da broadway para o brasil.

estive lá também, no domingo passado, graças à ousada estratégia da produção: convidar blogueiros em troca da possibilidade de uma divulgação informal e espontânea. até então só tinha ouvido falar disso como exemplos de cases de marketing e em palestras e artigos de comunicação. ponto para eles.

mas a avenida q a que me refiro é um certo período da vida pelo qual acho que todo mundo já passou. pode ser no fim da faculdade ou quando se é demitido do emprego numa fase de crise econômica.

qualquer que seja o motivo, é o momento em que você se vê numa espécie de vácuo existencial e pensa, como o personagem princeton na canção de abertura: “tô na merda!”

acho que uma das razões para o sucesso do musical, lá fora e aqui, vem desse reconhecimento. todos os personagens, assim como nós, estão em busca de alguma coisa, seja um rumo na vida, amor, sucesso, reconhecimento profissional, ou mesmo a boa e velha sacanagem.

e nessa jornada, a gente bate cabeça, faz besteira, e se deixa levar por conselhos errados dos “ursinhos do mal” que cruzam nosso caminho (agora uso o termo para definir certos conhecidos). mas passados os problemas, vemos o quanto eram ridículos.

a graça dessas situações fica mais evidente com a opção dos autores por utilizar bonecos para contar a história. as piadas politicamente incorretas, racistas, homofóbicas, até o “sexo explícito”, quando encenado pelos títeres, ganha um aspecto lúdico incapaz de chocar mesmo os moralistas mais empedernidos.

monteiro lobato já sabia disso – era através da boneca emília que expressava suas críticas políticas e sociais sem medo de sofrer represálias. o boneco, assim como o palhaço, pode tudo.

é notável a qualidade da manipulação realizada por parte do elenco. muito inteligente também foi expô-los de corpo inteiro ao lado dos bonecos, às vezes reforçando com o próprio corpo e expressões faciais as marcas da direção.

a cumplicidade em cena fica nítida quando um dos atores é obrigado a fazer a voz de dois bonecos, e o outro, com quem contracena, sincroniza com perfeição a mímica da voz. impressionante.

o elenco, aliás, é primoroso. como dei mole de não pegar o programa, não citarei todos, nem seus nomes, mas destaco o cara que fez o gary coleman (pena que a piada se perca um pouco por desconhecimento de grande parte da platéia do original), e, é claro, a sabrina korgut.

além de todos os elogios com que a mídia já a incensou, surpreendeu-me especialmente a cena em que ela usa as pernas para dar corpo à loura de vassa, no número da boate.

se eu fosse você, não bobeava: avenida q é um musical que agrada até quem não é fã do gênero.

Deixe um comentário

Arquivado em arte, música

Deixe um comentário